SE O P&P FOSSE UM
X-BLOG (X-MEN) FÁBIO XAVIER SERIA O NOSSO PROFESSOR. DEMASIADAMENTE HUMANO, EM
SENTIDO BENÉVOLO, O FILHO DE DONA NETE, COMPANHEIRO DE MÁRCIA E PAI DE GABRIEL
É UMA REFERÊNCIA DOS BONS COSTUMES. SUA VIVÊNCIA NO ESQUEITE FOI BEM INTENSA E
REVESTIDA DE MANOBRAS AFOITAS. CHEGOU A COMERCIALIZAR PEÇAS DO “CARRINHO”.
VENDIA PARA OS QUE NÃO TINHAM CONDIÇÕES DE PAGAR, “CHECHO” NA CERTA. INCLINADO
AS LETRAS E TECNOLOGIAS, EM XAVIER HÁ TENDÊNCIAS VANGUARDISTAS, NATURAL DO
ESQUEITE. SIMPLES E TÍMIDO EM SUA MODESTA, ELE NÃO ACEITA TAL HONRARIA. PORÉM O
P&P IGNORA ISSO E SE DERRAMA EM GRATIDÃO E HOMENAGEM A QUEM LHE OFERTOU A
DECÊNCIA. PARA VOCÊS, FÁBIO XAVIER.
P&P -
Na autoridade de um dos idealizadores, que “lombra” é essa de Sessão Geriátrica
de Skate.
A ideia, junto com
Henrique, Magui e Lau, é justamente resgatar o pessoal que andava nas antigas
em Casa Amarela. Ampliaram essa ideia e chamaram os que andavam nos “Correios”.
Andar de skate de forma descontraída, na ideia da diversão e confraternização,
sem necessidade de manobras mirabolantes.
P&P - Você passou um tempo afastado do Esqueite,
fisicamente, por quê?
Aproximadamente há sete
anos eu tive um problema na perna. O médico me informou que foi por conta de
muito impacto. Fiz tratamento, tomei remédio e melhorei. Mas por causa de
faculdade e trabalho, me afastei realmente do skate, apenas fisicamente.
P&P -
Quando e como o Esqueite invadiu a sua vida?
Começou em 1989. A gente
já sabia que tinha pessoas que andavam na frente do Bompreço de Casa Amarela e
na escola Dom Vital. Então eu e mais duas pessoas lá de Nova Descoberta,
geralmente o iniciante compra o skate mais vagabundo que encontra, e fomos lá
em Casa Amarela. Pulamos o muro da escola, sem se apresentar ou pedi permissão,
e invadimos o pico dos caras, Batman, Masao e Anderson, (risos) que ficaram
assustados (risos). Fomos meio que ignorados e ficamos no cantinho. Depois tudo
se normalizou.
P&P -
Qual foi o instante em que o “Carrinho Viciante” se fez mais presente?
Eu nunca tive um skate
muito forte, sei de meus limites técnicos. Acho que metade dos anos 90 quando andávamos
em Casa Forte e Casa Amarela. O meu skate era mais fluído.
P&P -
Quem contribuiu para o seu Esqueite?
Minha primeira
influência foi Batman. O primeiro que chegou na gente, que dava os toques das
manobras; pronto, aprendi a dá boardslide com ele. Masao também a gente
admirava seus ollies, muito poderoso e perfeito. Também tinha o Alonsinho que
andava bem. Patrício contribuiu com a logística e informações, isso nos
“Correios”.
P&P -
Fábio, para o público do P&P, fale sobre as marcas das antigas.
Naquela época era tudo
complicado de se ter acesso. Então lembro que utilizávamos tênis Mad Rats,
shapes da Life Style, todo mundo queria ter. Ficava esperando que Patrício e
Marcelo trouxessem de São Paulo assim. Era uma guerra pegar um shape daquele.
Depois Thronn montou uma loja que trazia também materiais. Tinha outras marcas como
a Fly Walk, Alva, Onda, Maha, Cush, H-Street, Prolife, Big Job. Truck H-521 era
o top. Rolamentos NHBB, Singapore, NSK e bilha. Rodas eram Narina, Moska e
Domínio, entre outras marcas não lembradas. Aqui houve uma tentativa de se
fazer shape, era o Eca. E nos vídeos, a gente esperava os japoneses receberem
do Japão os VHSs. Eles eram boa gente, emprestavam para reprodução. Com os
vídeos facilitava a visão do skate nos Estados Unidos na época.
P&P -
Mito ou verdade: houve uma pista de partins, ná década de 80, em Casa Forte
onde vocês invadiam para andar; procede que no final dos 80 você já andava no
Parque Santana, descasca esse abacaxi.
Procede. Era a Rock’s.
Eu tive o conhecimento dela nos anos 90. Descobrimos a pistas que estava
abandonada. Tinha umas transições e um delta para dá ollies. E no Parque
Santana também é correto. Não tinha essa estrutura de hoje. Era uma área como
se fosse um estacionamento. O que fazíamos? Trazíamos umas rampas de madeira de
Casa Amarela (Alto Santa Isabel) para o Santana, em cima do skate ou num ombro
mesmo (risos). Tinha um trilho também. Andávamos à tarde toda e na hora de ir
embora… metade sumia para não levar as rampas (risos). Apesar do sacrifício era
bem divertida época de saltar a jump. Exatamente neste período houve uma
tentativa de fazer uma mini rampa na casa de Sérgio, morador de Casa Forte.
Chegou até ser construída um esqueleto dela que era um misto de mini rampa com half (risos)
P&P -
Xavier, notória contribuição você prestou e ainda presta à “Tábua Com Rodas”,
mesmo tendo prejuízo. Cabe filantropia no Esqueite.
Acho que cabe. A maioria
tem esse sentimento de compartilhar mesmo. Hoje se compartilha foto e vídeos
pela internet. Naquela época ofertávamos shapes usados, tênis também assim,
lanche e até ajudar na passagem para ir a Boa Viagem; sempre rolava isso assim.
P&P -
Leitor de gibi e íntimo das tecnologias, isso há muito tempo. Para um menino de
periferia não é enxerimento não.
Não. Desde pequeno eu
fui aberto para as novidades, graças a meu tio. Eu lia gibis e revistas de
esportes. Houve uma, que nem sei como conseguir, tinha umas fotos de uns caras
andando de banks no Rio de janeiro, dai surgiu a curiosidade por skate. Isso é
típico do skatista procurar novidades, procurar se informar das coisas.
P&P -
Com seus irmãos (Nando e Beto) você ensaiava os passos e ia ao baile. Fábio
ainda dança.
(Risos e risos) Não. Mas
eu tenho essa fase aí dos bailes funk. A gente se subdivia em andar de skate,
primeiro contato com a música punk, mas o baile do sábado era sagrado. Era o
que o adolescente do meu bairro frequentava né. Na verdade eu participava
desses dois grupos aí, skate e dança.
P&P -
Saudades de Beto.
Apesar de não ter um
relacionamento muito próximo né, nos últimos anos. Mas foi arrancado da vida de
forma muito bruta. Lembro de bons momentos assim. Até no skate, apesar dele não
andar, todo mundo conhecia ele, participava dos eventos com a gente. Teve uma
história muito engraçada quando a gente foi a um campeonato profissional, na
Bahia, ele foi a viagem inteira, no ônibus, perturbando Felipe (risos). Era uma
pessoa muito engraçada, todo mundo gostava dele nesse sentido. Não só pra mim
como para as pessoas que o conhecia, faz falta e saudades.
P&P -
Você ia escutar RAP, quando pouco se falava, na loja de Thronn que tinha acesso
a novidades na música.
Isso, isso. Meu primeiro
contato com o RAP foi através de Masao que me emprestou algumas fitas k7 do
Public Enemy e Run DMC. Depois eu fiz contato com Thronn e, realmente, peguei
muita coisa de RAP com ele.
P&P -
Formado em Tecnologias em Sistema para Internet pela UFPE, passou em alguns
concursos, servidor público federal, via de regra o esqueitista estuda.
Estuda (risos). A
maioria tem isso em mente, é preciso estudar. Até quando vai andar você aprende
um pouco de inglês com os nomes das manobras, indiretamente. E ir atrás das
coisas, naturalmente, acaba tendo aquele sentimento de que tem que estudar pra
ter um emprego razoável. Manter o seu esporte, comprar suas peças, bancar
viagens com o fruto de seu estudo. No skate há pessoas que têm mestrado,
doutorado e fazendo pós-doutorado, fazendo trabalho de pesquisa em cima do tema
Skate. E isso acaba influenciando outras pessoas também.
P&P -
Fábio, para concluir, dê uma ternurinha para o leitor do P&P e obrigado por
tudo.
Queria dizer que
continue andando e principalmente se divertindo, acho que o espirito do skate é
esse. Claro que tem aquele pessoal que almeja mais né. Uma melhor técnica,
aprimorar as manobras, participar de campeonatos até se transformar em
profissional, respeito isso também. O espirito e a base é a diversão e
confraternização. Você encontrar os amigos e boas sessions de skate
O Pico da Sagrada foi palco de grandes e divertidas sessões nos 90... Fabio e Anderson pulando João Carlos "Pig"
Rua da Sagrada em Casa Forte - Ollie ao lado do amigo Anderson "Gago"
Em 1989 a gente já sabia que tinha pessoas
que andavam na frente do Bompreço de Casa Amarela... Fábio admirando o Airwalk do amigo Japonês Masao Irié na Jump.
"Meu primeiro contato com o RAP foi através de Masao
que me emprestou algumas fitas k7 do Public Enemy e Run DMC. "
Professor Xavier em ação
"No skate há pessoas que têm mestrado, doutorado e fazendo pós-doutorado,
fazendo trabalho de pesquisa em cima do tema Skate. E isso acaba influenciando
outras pessoas também."
Alguns sessões de skate são únicas... O rolé no Full Pipe de Apipucos em 2008 durou apenas duas sessões.
Varial Tailgrab
"continue andando e principalmente se divertindo, acho
que o espirito do skate é esse"
As amizades do skate atravessam décadas
Boneless sempre será uma manobra admirada pelos skatistas... O reverendo Lau resolveu admirar o boneless de Fábio bem de perto.
Seja de Front ou de Back, Fábio mostra que o Grind continua no pé
Nas sessões matinais de domingo... Layback no Parque Santana.
Frontside Boneless no snack do Parque Santana
Melon nas transições do Parque Caiara
44 anos depois do nascimento e Fábio ainda continua andando nos trilhos
Fábio é um dos idealizadores da Sessão Geriátrica
"Andar de skate de forma descontraída, na ideia da
diversão e confraternização"