sábado, 26 de agosto de 2017

CAMPEONATO NÃO, ACONTECIMENTO...CORREIOS 1992

Um campeonato de Esqueite em Recife quando seu cenário era duro e escasso? O ano era 1992, logo após período Collor, tempos difíceis para o Carrinho, aconteceu na Rua Siqueira Campos, por trás dos Correios central, evento que marcaria o Esqueite Pernambucano. Idealizado por dois jovens, Patrício e Pierre, que coletaram obstáculos em vários bairros, solicitaram serviços públicos, comunicaram a imprensa, entre outras responsabilidades. Era domingo ensolarado a beira do Capibaribe; sentimentos de curiosidades expectativa; picolés para os escritos; categorias iniciante e amador; a polícia do baculejo era a mesma a fazer segurança, houve a presença de dois profissionais na área (Marcelo Bobeirinha e Thron); e grande público que foi registrado pela imprensa escrita e televisionada. O iniciante teve Tiago Paraná como campeão, Kiko de Água Fria, segundo e João Neto filosoficamente em terceiro. Ilustres amadores fizeram a festa. Bufa e seu estilo, Sérgio China era Maranguape, Kaskilho tomou uma vaca triste, Verônildo dia anterior quebrou o shape de Carioca, Lobão no recinto, Josa em segundo (o público o queria em primeiro, coisa de campeonato) e o grande vencedor, Og de Souza e seus 360. Moisés (Falecido recentemente) ajudou na organização e cuidou de guardar as planilhas. Há uma enorme carência de registro desse marco. Pela importância, merece um trabalho mais aprofundado. O maior legado desse acontecimento, além de apresentar o Esqueite aos Pernambucanos, foi que se pode fazer um categórico evento mesmo com as adversidades. Obrigado Patrício, obrigado Pierre pelo Campeonato dos Correios.

Uma relíquia guardada pelo skatista João Neto 
Troféu da 1ª Etapa Street Skate Pernambuco (1992)
Terceiro Lugar na categoria Iniciante 

Os anos passaram, mas Patrício continuou frequentando o Pico dos Correios
 
  

     Jean Pierre voando na Jump do Estacionamento do Parque Santana (1989)
           quando   nem se imaginava que ali seria construída um skatepark 


 Patrício viveu a melhor fase do Pico localizado ao pé da Ponte Duarte Coelho
andou de skate e organizou campeonato nos Correios com o amigo Pierre. 


 Pierre, mesmo gostando de correr campeonatos, teve a decência de não participar do camp que estava organizando com o amigo Patrício. 
Pierre no Campeonato de Jaboatão (Começo dos anos 90)

  
O skatista Profissional Thron também marcou presença no Campeonato dos Correios em 1992
(Ollie dentro da sua skateshop SK8 ROCK em 1993)

Og de Souza foi o campeão Amador dos Correios em 1992, tornou-se Profissional tempos depois, mas não esqueceu o pico raiz do skate recifense.
Go Skate Day Recife 2012





Texto: Alberlando "Lau" 
Fotos: Skatemaster Recife, acervo Patrício e Pierre, Jornal do Comercio e João Neto.



terça-feira, 22 de agosto de 2017

A Excelência dos Correios, Marcelo "Boberinha"



Quando fui convidado a falar sobre o primeiro pico de skate do Recife, conhecido como “Correios”, confesso que fiquei bastante emocionado. Naquele pequeno pedaço de chão, eu pude viver alguns dos melhores momentos da minha vida. Também não poderia falar sobre este tema sem contar um pouco da historia, pois foi lá onde tudo começou...

Em 1986, enquanto passeava pela Av. Guararapes, no centro do Recife, próximo a agência central do Correios, passei em frente a uma banca de revistas e fiquei paralisado ao ver uma revista que tinha na capa um cara “voando com um skate nos pés”. Era simplesmente a segunda edição da revista YEAH SKATE, que trazia na manchete: “O skate invade as ruas” Na fotografia de Daniel Bourqui, autor da foto, um skatista carioca chamado César Portuga, saltava sobre uma escadaria na cidade do Rio de Janeiro.

Sem pensar duas vezes, comprei aquela revista e corri para casa a fim de mostrar ao meu primeiro parceiro de skate, Flávio Guabiru, que até então era apenas um simpatizante assim como eu.
Começamos a tentar descobrir como seria possível aquelas fotos, pois nunca tinha visto algo parecido em cima de um skate. Essa busca nos levou a descobrir o primeiro “half pipe” de Recife que ficava em frente a uma loja chamada “Drops”, no bairro de Boa Viagem. Não era bem um half pipe, na verdade eram duas rampas, uma de fibra de vidro com 2m de altura e outra de madeira com 2,40m, separadas por um piso de cimento.

Numa ensolarada tarde de Domingo, decidimos ir até a Drops pra ver o que rolava, de repente, surgiu uma galera muito punk, com skates embaixo do braço e umas roupas esquisitas, alem  daqueles equipamentos de proteção que cheirava a xulé brabo! Naquele momento mágico, tive a honra de conhecer uns dos primeiros skatistas de Pernambuco, meu Mestre Júlio Marques,  Jorge Marques, Marinho, Monte, Flávio Manequim e outros caras que protagonizarão o começo desta história.

Até então “street skate” não existia pra nós, apenas o vertical era realidade. Um certo dia, Júlio Marques nos convidou para assistir um vídeo gringo só sobre skate, que um amigo havia trazido da América. Esse vídeo se chamava “The Bones Brigade Video Show”, foi o primeiro vídeo de skate do mundo, que havia sido lançado em 1984, ou seja a mais de 10 anos antes daquela data. A partir daquele  momento nossa visão sobre skate mudou completamente, ao ver o Lance Moutain esboçando algumas manobras na rua. Dai em diante, começou a verdadeira “febre”, de um simples esporte a um estilo de vida que ganhava as ruas da cidade.

Mais vídeos gringos foram surgindo numa velocidade maior, proporcional a nossa evolução no street skate. Eu e o meu amigo Flávio Guabiru, nos tornamos os primeiros “streeteiros” de nossa cidade. Porém a busca passou a ser por picos de skate do tipo que a gente via nos vídeos. Foi então que surgiu os “Correios” que na verdade era um calçada as margens do rio Capibaribe, esquina com a ponte Duarte Coelho na Rua do Sol, em frente ao prédio sede do Correios, por isso o nome do pico.

Começamos a frequentar a calçada que tinha uma arquitetura bem peculiar e muito interessante para manobras de street skate. Naquele local havia uma espécie de banco com paredes inclinadas com  uns 60º, com bordas de cimento liso que se estendia por toda a área, parte reto e parte em meia lua e entre o espaço em meia lua, vários  bancos duplos e triplos com forma cilíndricas de diversas alturas, 25, 40, 50 e 70cm, era um verdadeiro “skate park”.

Bem ao lado, ficava um terminal de varias linhas de ônibus. Não demorou muito pra surgir vários skatistas de vários bairros do Grande Recife. A cada semana apareciam novos adeptos, e o skate começou a se espalhar por vários picos no centro da cidade. Eu até me arrisco a dizer que, “Os Correios foi o mais importante pico de skate do Nordeste”, pois, nunca em nenhum outro lugar, aconteceu um fenômeno igual que serviu como referência para vários skatistas do Norte e Nordeste, e o famoso pico, passou a ser um ponto turístico do skateboard, que atraía muitos adeptos de diversas partes do Brasil.

Naquele pequeno espaço, foram revelados grandes nomes do skate pernambucano, vou citar alguns deles, pois a lista é grande! Entre os primeiros e mais marcantes da época estão: Flávio Guabiru, Lobão, Abi, Patrício, André Tripa, Gaudio Morcegão, Duda Trindade, Luis Tattoo, André Fly, Og de Souza, Neto Ozzy, Sergio China, Franja, Rafael Bufa, Leo Punk, Saulo Doido, Henrique Brayner, Geovane Galo, Alexandre Cupim, Felipe Pazini, Noryuki, Andrey, Irton Silva Batman, Marcos Capacete, Baygon, Josa, Alex Punk, Alexandre Bode, Lau, Adriano Maraca, Adriano Caldas, Elanio Sena Moreno (fotógrafo oficial da galera) e muitos outros que por lá passaram em algum momento da história.

A “época de ouro” do skate pernambucano deixou muitas saudades; Das margens do Capibaribe, que me levou a muitos outros lugares de todo o Brasil, daquele sentimento de liberdade e fraternidade que emanava no ar, dos amigos que já se foram e de todos que permanecem entre nós.   

Deixo aqui um forte e imenso abraço a todos os skatistas da velha e da nova geração.

SKATEBOARDING 4 EVER!

Marcelo Agra.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Celebre, leia e viva “Os Correios"




O Picos e Pistas se desdobra em homenagem para celebrar as bodas de prata, um quarto de século, ou seja, 25 anos do campeonato dos Correios, realizado por Patrício e Jean Pierre... Para tanto, pensamos numa matéria com importantes depoimentos de quem viveu o pico basilar do skate pernambucano. Coletamos várias ideias e leituras a respeito dos “Correios”, onde você pode tirar suas conclusões a respeito do cenário. Não se trata de um trabalho acabado sobre o assunto e sim um pontapé inicial para um trabalho mais robusto. 
  
Matéria publicada na Revista Session (2014)
Masao pergunta - Aê Alexandre Bode, gostaria de saber qual foi o ano que começou o movimento de skate nos “Correios” e qual o maluco que você viu mais andar nos “Correios”?
Alexandre “Bode” responde - Acredito que em meados de 1986 já rolava session no “Correios”, que quem andava na época (Bobeirinha, Gabiru, JM e outros) chamava de “Catombos” (vamos andar nos “Catombos”). Lá virou ponto de encontros dos HC’s e Headsbangers da cidade. Ou seja, o lugar mais descolado da cidade, underground. Bobeirinha, o pai da matéria, era quem mais andava.

Matéria publicada na Revista Session (2014)
Alexandre “Bode” pergunta -  Patrício, você sofreu algum tipo de preconceito quando andava de SKT nos “Correios”, por que eu lembro muitas vezes de ter sido chamado de vários nomes por andar de SKT e  qual foi o momento nos correios que ficou gravado em sua memória?
Patrício Responde - Eram muitos os preconceitos e xingamentos na calçada dos “Correios”. Baculejo e abordagem da policia eram constantes, principalmente, quando a galera dos bairros começou a invadir o centro. Geralmente a policia confundia agente com os “galerosos” então tínhamos conflitos com a policia e com os caras das galeras, é por isso que começamos a andar mais na pracinha de Boa Viagem. Mas tenho boas lembranças principalmente do dia que fizemos o campeonato nos “Correios”, ai foi a gloria. Mandamos oficio para policia militar e detran e no dia campeonato, a mesma policia que chegava sem respeito nas abordagens, estava nesse dia pra nos servi e colaborar pra que o campeonato desse certo; e eu nunca esqueço disso. Nesse dia aquele pedaço do centro de Recife era nosso com tudo que tinha direito, televisão, policia, detran etc... uma realização.

Skate na Capa do Diário de Pernambuco (1992)
Patrício pergunta - Masao,  quando você passa pelos ”Correios”, nos dias de hoje,  lembra das sessões dos anos 90 e há  algum momento que marcou sua memória?
Masao responde - Sempre quando passo pelos “Correios” a lembrança são os “catombos” (nome do obstáculo natural dos “Correios”). Lembrança forte era se preparar, nos sábados, para andar nos “catombos”, opa nos “Correios”. É mesmo! Todos os sábado estávamos lá, no “Catombo”, véi!

Matéria sobre skate no Centro do Recife (10 de Fevereiro 1992)
Carioca pergunta - Gostaria de saber de você, Saulo, depois de mais de duas décadas passadas, qual sua visão daquela época dos correios, onde basicamente só tínhamos aquele pico " punk" para andarmos, em comparação com o skate de hoje em Recife? O que você acha que melhorou ou piorou? O que ficou de positivo ou negativo pra você daquele tempo dos correios?
Saulo “Doido” responde - Massa Cariocaaa! É foda. O Skate naquela época era tudo. Se o chão era liso, já era bom. E imagina uma calçada cheia de obstáculos e cheia de skatistas, um sonho. Hoje em dia têm várias pistas e vários picos, um  lado positivo pro Skate. E mesmo com toda dificuldade de antes o Skate não parou. Pois seguramos Ele no sangue e na alma. Suportamos as crise dos anos 90 e outras baixas e altas também. Meus melhores amigos conheci através do SKT  e os lugares que conheci também.  Skate não é moda, não é novela e está na alma. Pode todo mundo parar de andar que os de alma não param.... foi isso que aprendi no “Correios.

Troféu do campeonato dos Correios (1992) 
 3º lugar Categoria Iniciante João Neto
Paulista “Lord” pergunta - Pierre, com tantos lugares na cidade por que os “Correios” foi logo o ponto escolhido na década de 80 -90 por não oferecer espaço e suporte pra tantos skatistas?
 Pierre responde - Na realidade não tínhamos nenhuma pista para andar e poucas opções até de asfaltos novos e tal. A gente não tinha suporte, espaço, apoio ou estrutura nenhuma. E os “Correios” era central a maioria dos ônibus de todos os lados da região metropolitana tinham seus terminais próximos; sem falar no Veneza , beco da Fome e tudo que envolvia o Skate Punk e a cena musical hard core da época. Era um pico natural muito bom!! Na descida da ponte tínhamos uma mureta de pedra, lembro bem dos boardslides do Capacete, todo o ambiente era cercado de uma transição punk de onde conseguíamos tirar até rocknroll na tora. E os eternos catombos onde o Josa varava com seus big ollies . Sinto uma enorme nostalgia em falar dos correios. Ficaram muitas lembranças, muitas coisas vivemos naquele chão de pedrinhas vermelhas!!!

 Entrevista com Paulista para o Zine Recifezes (1994)
Lobão pergunta - Paulista, os “Correios” foi o primeiro pico que encontrou ao ter chegado de São Paulo e se tem alguma semelhança com o Vale do Anhangabaú?
Paulista responde - Kkkkkkkk... Não, o Anhangabaú não existia, mas, as paredes inclinadas dos “Correios” me faziam lembrar a Praça Roosevelt. A galera não andava no Anhangabaú neste tempo. Kkkkkkkkk... O primeiro pico que andei foi em boa viagem num mine half punk feito de chapa de acrílico.

 Cupin respondendo uma perguntinha do Zine Recifezes (1994)
Cupim pergunta - Lá vai, Lobão: como você conseguia andar bem pra caramba, nos “Correios”, depois que virava uma noitada?
Lobão responde - Vai saber... vai entender, isso é inexplicável. Talvez a secura de andar de skate, muita disposição. Os “Correios” era o ponto de encontro e apoio para encontrar os amigos e andar estigado. Também os “Correios” serviu para juntar pessoas de todos os lugares e depois espalhou a semente do skate em outros picos fortalecendo o esporte.

 Morcegão o Síndico dos Correios (1991)
Saulo pergunta - Cupim, meu nobre, era impressionante chegar nos correios e ver aquela galera andando de SKT, muitos bom. O que mais te impressionou  nos “Correios” e quantos skates você já tirou da maré? Fala ai é rochaaa !! Abraços, meu nobre.
Cupim responde - Cara, o que mais me impressionava era a união que a galera tinha e as sessions que fazíamos pelas ruas de Recife.  SK8 que peguei na maré, foram mais de cinco eu acho. Tenho boas lembranças dessa época.

 Lau, Patrício e Hc visitando o pico para uma matéria (2013)
Marcos “Capacete” pergunta - Em toda sua estada nos “Correios” qual o momento que você destaca como o mais importante, Fábio?
Fabio Xavier responde - Não consigo destacar um só momento especial daquelas sessions. Prefiro dizer que todas as sessions nos “Correios” acompanhadas pela turma de Casa Amarela e Água Fria foram inesquecíveis.Lembro de Capacete, skatepunk, e suas manobras já extremamente técnicas naquela época, o saudoso nego saci pulando aqueles círculos no chão (como se chama aquilo?) de backside ollie. Luciano Doutor Louco e Masao e seus poderosos ollies, Lau, Pierre, Nando Naja e o restante da gangue de Água Fria representando também. Realmente foram bons tempos.

 Patrício na Capa da matéria do Zine Recifezes (1994)
Fábio pergunta - Prezado amigo Capacete, a prática do skate no final dos anos 80 e começo dos anos 90 aqui em Recife tinha uma ligação bem forte com o movimento punk daquela época. Como aquele cenário influenciou o seu estilo de vida e o seu jeito de andar de skate?
Capacete responde - Na verdade eram coisas que andavam lado a lado, música e o skate. Como o punk rock e skate tinham essa ligação de protesto por ser um esporte sempre discriminado e rebelde, assim também a musica punk. Ambos queriam ter seu espaço. Mas de certa forma a ligação entre eles causaram transtorno na vida de alguns skatistas assim como redução da prática e até abandono ao esporte.

 Patrício, Og, Saulo e Lau revisitando os Correios (2013)
Lau pergunta   Qual a importância dos Correios pra o skate de Og?
Og de Souza respondeMano, os “Correios” foi meu maternal, jardim de infância, primeiro e segundo graus, como também o vestibular e o superior do Skate do OG de Souza, em todos os sentidos. Tive minhas primeiras experiências com ollie, minhas primeiras sessions de street compartilhei com amigos que fiz e trago até hoje, são meus irmãos. Sessions inesquecíveis. Consegui adquirir uma habilidade e perícia em vários obstáculos que a rua nos impõe. E principalmente o amor que todos tinham pelo skate, que foi plantado no meu coração. 

 O ultimo grande evento dos Correios, saída do Go Skate Day Recife (2012)
Henrique HC pergunta – E aí Tônico, qual tua lembrança do Correios ?
Tônico responde - Quando me lembro dos “Correios” lembro logo quando teve um campeonato em Timbaúba. Foi minha primeira vez que fui lá e nunca tinha visto tantos skatistas juntos andando de skate e se divertindo. Logo falei ao meu irmão que não iria pra o campeonato, pois fiquei com vergonha ou medo. Porque achei que iria competir com pessoas de minha idade e logo vi que não tinha ninguém do meu tope. Ali começou uma bela história de boas amizades, diversão e muito aprendizado!

  
Texto: Lau
Entrevista: Masao, Alexandre Bode, Patrício,  Carioca, Fabio, Saulo, Paulista, Pierre, Lobão, Cupin, Lau, Henrique, Tônico, Capacete e Og de Souza
Acervo de fotos: Carlos (Zine Recifezes), Patrício (Skatemaster Recife), Morcegão, Josá, João Neto, Revista Session, Diário de Pernambuco, Henrique Hc.