O
Picos e Pistas se desdobra em homenagem para celebrar as bodas de prata, um
quarto de século, ou seja, 25 anos do campeonato dos Correios, realizado por
Patrício e Jean Pierre... Para tanto, pensamos numa matéria com importantes
depoimentos de quem viveu o pico basilar do skate pernambucano. Coletamos
várias ideias e leituras a respeito dos “Correios”, onde você pode tirar suas
conclusões a respeito do cenário. Não se trata de um trabalho acabado sobre o
assunto e sim um pontapé inicial para um trabalho mais robusto.
Matéria publicada na Revista Session (2014)
Masao pergunta - Aê Alexandre Bode, gostaria de saber qual foi o ano que começou o
movimento de skate nos “Correios” e qual o maluco que você viu mais andar nos
“Correios”?
Alexandre
“Bode” responde - Acredito que em meados de 1986 já rolava session
no “Correios”, que quem andava na época (Bobeirinha, Gabiru, JM e outros)
chamava de “Catombos” (vamos andar nos “Catombos”). Lá virou ponto de encontros
dos HC’s e Headsbangers da cidade. Ou seja, o lugar mais descolado da cidade,
underground. Bobeirinha, o pai da matéria, era quem mais andava.
Matéria publicada na Revista Session (2014)
Alexandre “Bode” pergunta - Patrício, você sofreu algum tipo de
preconceito quando andava de SKT nos “Correios”, por que eu lembro muitas vezes
de ter sido chamado de vários nomes por andar de SKT e qual foi o momento nos correios que ficou
gravado em sua memória?
Patrício Responde - Eram muitos os preconceitos e
xingamentos na calçada dos “Correios”. Baculejo e abordagem da policia eram
constantes, principalmente, quando a galera dos bairros começou a invadir o
centro. Geralmente a policia confundia agente com os “galerosos” então tínhamos
conflitos com a policia e com os caras das galeras, é por isso que começamos a
andar mais na pracinha de Boa Viagem. Mas tenho boas lembranças principalmente
do dia que fizemos o campeonato nos “Correios”, ai foi a gloria. Mandamos
oficio para policia militar e detran e no dia campeonato, a mesma policia que
chegava sem respeito nas abordagens, estava nesse dia pra nos servi e colaborar
pra que o campeonato desse certo; e eu nunca esqueço disso. Nesse dia aquele
pedaço do centro de Recife era nosso com tudo que tinha direito, televisão,
policia, detran etc... uma realização.
Skate na Capa do Diário de Pernambuco (1992)
Patrício
pergunta - Masao, quando você passa
pelos ”Correios”, nos dias de hoje, lembra
das sessões dos anos 90 e há algum
momento que marcou sua memória?
Masao
responde - Sempre quando passo pelos “Correios” a lembrança
são os “catombos” (nome do obstáculo natural dos “Correios”). Lembrança forte
era se preparar, nos sábados, para andar nos “catombos”, opa nos “Correios”. É
mesmo! Todos os sábado estávamos lá, no “Catombo”, véi!
Matéria sobre skate no Centro do Recife (10 de Fevereiro 1992)
Carioca pergunta - Gostaria de saber de você, Saulo,
depois de mais de duas décadas passadas, qual sua visão daquela época dos
correios, onde basicamente só tínhamos aquele pico " punk" para
andarmos, em comparação com o skate de hoje em Recife? O que você acha que
melhorou ou piorou? O que ficou de positivo ou negativo pra você daquele tempo
dos correios?
Saulo “Doido” responde - Massa Cariocaaa! É foda. O Skate
naquela época era tudo. Se o chão era liso, já era bom. E imagina uma calçada
cheia de obstáculos e cheia de skatistas, um sonho. Hoje em dia têm várias
pistas e vários picos, um lado positivo
pro Skate. E mesmo com toda dificuldade de antes o Skate não parou. Pois
seguramos Ele no sangue e na alma. Suportamos as crise dos anos 90 e outras
baixas e altas também. Meus melhores amigos conheci através do SKT e os lugares que conheci também. Skate não é moda, não é novela e está na
alma. Pode todo mundo parar de andar que os de alma não param.... foi isso que
aprendi no “Correios.
Troféu do campeonato dos Correios (1992)
3º lugar Categoria Iniciante João Neto
Paulista
“Lord” pergunta - Pierre, com tantos lugares na cidade por que
os “Correios” foi logo o ponto escolhido na década de 80 -90 por não oferecer
espaço e suporte pra tantos skatistas?
Pierre
responde - Na realidade não tínhamos nenhuma pista para andar
e poucas opções até de asfaltos novos e tal. A gente não tinha suporte,
espaço, apoio ou estrutura nenhuma. E os “Correios” era central a
maioria dos ônibus de todos os lados da região metropolitana tinham seus
terminais próximos; sem falar no Veneza , beco da Fome e tudo que envolvia o
Skate Punk e a cena musical hard core da época. Era um pico natural muito bom!!
Na descida da ponte tínhamos uma mureta de pedra, lembro bem dos boardslides do
Capacete, todo o ambiente era cercado de uma transição punk de onde
conseguíamos tirar até rocknroll na tora. E os eternos catombos onde o Josa
varava com seus big ollies . Sinto uma enorme nostalgia em falar dos correios.
Ficaram muitas lembranças, muitas coisas vivemos naquele chão de pedrinhas
vermelhas!!!
Entrevista com Paulista para o Zine Recifezes (1994)
Lobão pergunta - Paulista, os “Correios” foi o
primeiro pico que encontrou ao ter chegado de São Paulo e se tem alguma
semelhança com o Vale do Anhangabaú?
Paulista responde - Kkkkkkkk... Não, o Anhangabaú não
existia, mas, as paredes inclinadas dos “Correios” me faziam lembrar a Praça
Roosevelt. A
galera não andava no Anhangabaú neste tempo. Kkkkkkkkk... O primeiro pico que
andei foi em boa viagem num mine half punk feito de chapa de acrílico.
Cupin respondendo uma perguntinha do Zine Recifezes (1994)
Cupim pergunta - Lá vai, Lobão: como você conseguia
andar bem pra caramba, nos “Correios”, depois que virava uma noitada?
Lobão responde -
Vai saber... vai entender, isso é inexplicável. Talvez a secura de andar de
skate, muita disposição. Os “Correios” era o ponto de encontro e apoio para
encontrar os amigos e andar estigado. Também os “Correios” serviu para juntar
pessoas de todos os lugares e depois espalhou a semente do skate em outros picos
fortalecendo o esporte.
Morcegão o Síndico dos Correios (1991)
Saulo
pergunta - Cupim, meu nobre, era impressionante chegar nos
correios e ver aquela galera andando de SKT, muitos bom. O que mais te
impressionou nos “Correios” e quantos
skates você já tirou da maré? Fala ai é rochaaa !! Abraços, meu nobre.
Cupim responde - Cara, o que mais me impressionava era a
união que a galera tinha e as sessions que fazíamos pelas ruas de Recife. SK8 que peguei na maré, foram mais de cinco
eu acho. Tenho boas lembranças dessa época.
Lau, Patrício e Hc visitando o pico para uma matéria (2013)
Marcos
“Capacete” pergunta - Em toda sua estada nos “Correios” qual o momento que você
destaca como o mais importante, Fábio?
Fabio
Xavier responde - Não consigo destacar um só momento especial daquelas
sessions. Prefiro dizer que todas as sessions nos “Correios” acompanhadas pela
turma de Casa Amarela e Água Fria foram inesquecíveis.Lembro
de Capacete, skatepunk, e suas manobras já extremamente técnicas naquela época,
o saudoso nego saci pulando aqueles círculos no chão (como se chama aquilo?) de
backside ollie. Luciano Doutor Louco e Masao e seus poderosos ollies, Lau,
Pierre, Nando Naja e o restante da gangue de Água Fria representando também.
Realmente foram bons tempos.
Patrício na Capa da matéria do Zine Recifezes (1994)
Fábio pergunta - Prezado amigo Capacete, a prática
do skate no final dos anos 80 e começo dos anos 90 aqui em Recife tinha uma
ligação bem forte com o movimento punk daquela época. Como aquele cenário
influenciou o seu estilo de vida e o seu jeito de andar de skate?
Capacete
responde - Na verdade eram coisas que andavam lado a lado,
música e o skate. Como o punk rock e skate tinham essa ligação de protesto por
ser um esporte sempre discriminado e rebelde, assim também a musica punk. Ambos
queriam ter seu espaço. Mas de certa forma a ligação entre eles causaram
transtorno na vida de alguns skatistas assim como redução da prática e até
abandono ao esporte.
Patrício, Og, Saulo e Lau revisitando os Correios (2013)
Lau pergunta –
Qual a importância dos Correios pra o
skate de Og?
Og de
Souza responde – Mano, os “Correios” foi meu maternal, jardim
de infância, primeiro e segundo graus, como também o vestibular e o superior do
Skate do OG de Souza, em todos os sentidos. Tive minhas primeiras experiências
com ollie, minhas primeiras sessions de street compartilhei com amigos que fiz
e trago até hoje, são meus irmãos. Sessions inesquecíveis. Consegui adquirir
uma habilidade e perícia em vários obstáculos que a rua nos impõe. E
principalmente o amor que todos tinham pelo skate, que foi plantado no meu
coração.
O ultimo grande evento dos Correios, saída do Go Skate Day Recife (2012)
Henrique HC pergunta – E aí Tônico, qual tua
lembrança do Correios ?
Tônico responde - Quando me lembro dos “Correios” lembro
logo quando teve um campeonato em Timbaúba. Foi minha primeira vez que fui lá e
nunca tinha visto tantos skatistas juntos andando de skate e se divertindo.
Logo falei ao meu irmão que não iria pra o campeonato, pois fiquei com vergonha
ou medo. Porque achei que iria competir com pessoas de minha idade e logo vi
que não tinha ninguém do meu tope. Ali começou uma bela história de boas amizades,
diversão e muito aprendizado!
Texto: Lau
Entrevista: Masao, Alexandre Bode, Patrício, Carioca, Fabio, Saulo, Paulista, Pierre, Lobão, Cupin, Lau, Henrique, Tônico, Capacete e Og de Souza
Acervo de fotos: Carlos (Zine Recifezes), Patrício (Skatemaster Recife), Morcegão, Josá, João Neto, Revista Session, Diário de Pernambuco, Henrique Hc.